terça-feira, fevereiro 27, 2024



                         "Abril 50 "
M .Helena Vieira da Silva     
         


1. Quiseram pôr-me inteiro numa ficha. 
O dia e a noite são iguais por dentro. 
Não há papel que conte a minha vida 
mais que estes versos de punhal à cinta. 

A barba cresce e cresce a voz armada 
descendo pelos muros tão tranquila; 
tão tranquila que já nem desespera 
de ser apenas voz, não uma guerra. 

Quiseram pôr-me inteiro numa ficha. 
Não há papel que conte a minha vida. 
Mais que estes versos, esta mão estendida 
por sobre os muros só de medo e pedra. 

2 . Quando saíres, amigo, não me esqueças. 
Fico à espera da tua novidade. 
Olha bem que farás da liberdade: 
quando saíres, amigo, não me esqueças. 

Quero mais fazimento que promessas. 
São de prata os enganos da cidade 
com que outros sujeitam a vontade. 
Não me esqueças, amigo, não me esqueças.

Fernando Assis Pacheco

 

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