sexta-feira, maio 17, 2024


VIDA SEMPRE
 
Entre a vida e a morte há apenas 
o simples fenómeno 
de uma subtil transformação. A morte 
não é morte da vida. 
A morte não é inação, inutilidade. 
A morte é apenas a face obscura,
mínima, em gestação 
de uma viagem que não cessa de ser. Aventura 
prolongada desde o porão do tempo. Projectando-se 
nas naves inconcebíveis do futuro. 

A morte não é morte da vida: apenas 
novas formas de vida. Nova
utilidade. Outro papel a desempenhar 
no palco velocíssimo do mundo. Novo ser-se (comércio
do pó) e não se pertencer. 
Nova claridade, respiração, naufrágio
na máquina incomparável do universo. 

Casimiro de Brito, in "Poemas da Solidão Imperfeita"




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