terça-feira, dezembro 14, 2021






Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de setembro 
quando a luz é perfeita e mais doirada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada. 
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos, 
e deixei no ar braços suspensos 
ao encontro da luz que anda contigo. 
Tu és a esperança onde deponho 
meus versos que não podem ser mais nada. 
Esperança minha, onde meus olhos bebem
fundo, como quem bebe a madrugada. 

Eugénio de Andrade, in "As Mãos e os frutos"





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